Gosto de escrever histórias-de-amor, estas entre mães e filhos. Muitas vezes sorrio, arrepio-me, identifico-me, aprendo. Pela primeira vez, ao conhecer a Catarina e o Manel, chorei.
Catarina, mãe da Isabel e do Zé, entrou em trabalho de parto quando o Manel tinha 26 semanas e três dias. Nasceu, valente e corajoso, 936 gramas de gente.
Catarina, que se esquece em todas as linhas que me escreve que também é uma heroína, uma mãe de um tamanho infinito, enfrentou 72 dias de internamento, 72 dias de viagens diárias, entre Marvão e Évora, para ser mãe do Manel e dos irmãos pequeninos, para manter o negócio que sustenta a família.
Manel, como prematuro extremo, passou por duas sépcis, canal aberto, hemorragia cerebral de grau dois, retinopatia da prematuridade, inúmeras transfusões. E venceu cada batalha até à alta hospitalar.
Catarina amamentou os dois primeiros até perto do ano, “numa doce e terna cumplicidade”.
Com o Manel, pequenino e corajoso, foi diferente. “Os primeiros dias nos cuidados intensivos foram tão intensos e duros que eu quase me esqueci da amamentação. Foi uma enfermeira que me lembrou.”
Numa sala pequenina e sem janelas, onde estava uma bomba, virada para a parede, enquanto na sala ao lado o Manel lutava pela vida rodeado de máquinas e fios, Catarina tirou leite durante 70 dias. “Para conseguir tinha um truque. Segurava o telemóvel e ia vendo as fotos dos manos bebés. Tentando lembrar-me da magia de tê-los ao peito. E resultava.”
Um dia antes da alta hospitalar a enfermeira sugeriu: “Não quer tentar dar-lhe de mamar? Já só tem o oxigénio no nariz, já pode tentar.”
Manel não tinha dois quilos mas pegou devagarinho, sem forças, a respirar ofegante, cansado.
“No dia seguinte, a médica do Manel veio vê-lo a mamar. E ficamos assim as duas, comovidas, ao vê-lo cheio de garra. Ela disse-me que era um óptimo sinal em termos neurológicos, e que não se lembrava de outro bebé nascido às 26 semanas que tivesse conseguido mamar.”
Agora tem quase oito meses, Manel já come sopa, papa e fruta e ainda mama.
Tenho guardada cada história-de-amor que conheci no Loove. Sei os pormenores de cada uma delas mas, confesso, guardarei sempre a força do Manel e da Catarina como uma lição de vida. Catarina, a mãe que nunca se assume como uma heroína, assume a amamentação como “uma vitória conjunta”.
“Amamentar o Manel tem muito de superação, resistência, sobrevivência. Este último domingo comecei o dia com o Manel ao peito ainda no quentinho da cama. Foi o dia da mãe e eu pensei para comigo: ser mãe é exactamente isto.”
Catarina Beato