Quando olho para os momentos que o Tiago tornou eternos sei que estava muito feliz e muito cansada. Ser mãe é isso. Felicidade e cansaço. Amamentar é também esse estranho equilíbrio entre amor e dor. Com o Afonso dar mama tem sido quase sempre muito fácil. Muito sereno. Muito doce. Escrevo “quase” porque em dois momentos apeteceu-me ter um plano b (que nunca ponho em cima da mesa): aos 8 meses quando, depois da amamentação exclusiva terminar, as hormonas da felicidade foram embora, senti-me exausta e achei que a culpa de todas as noites mal dormidas era da mama. Respirei fundo e passou.
Para escrever sobre o cansaço, é preciso estar igualmente cansada. Assumir os momentos em que o nosso maior amor é a causa das nossas dores, é difícil. Para mim, é difícil. Neste momento, em que escrevo, estou tão cansada como naqueles instantes que o Tiago tornou eternos, em passeio por Lisboa. Sei que depois de escrever, logo a seguir, penso em tudo o que tenho e que me compensa o cansaço que sinto. Mas há momentos em que não consigo apagar as saudades que tenho de não fazer nada, mesmo nada, de não ter nenhuma preocupação, ou responsabilidade. Viajar, jantar fora e beber uma garrafa de vinho. Adormecer na praia depois de ler um livro inteiro. Fazer quilómetros infinitos só para ver um lugar. Acordar sem pressa e ler todas as revistas. Devia ser nisso que estava a pensar quando o Tiago guardou para sempre aquele instante em que se vê o meu cansaço.
Quando o cansaço alivia, ou quando o verbalizo, penso apenas na sorte que tenho em ser mãe a tempo inteiro. Penso também nas saudades que vou ter destes momentos de intimidade absoluta. Penso nesta busca por um equilíbrio em que o cansaço nunca seja demasiado, nem me tire o prazer absoluto que sinto em ser mãe.
Amamentar é um estranho equilíbrio entre amor e dor. Mas, dizem, que o amor quando é a sério, vence sempre.
Catarina Beato
2 de Julho de 2013