Mas que raio tem esta coisa da amamentação a ver com o estádio da Luz? Nada, para os seres humanos que se entendem por normais. No meu caso, que não tenho grandes caprichos com a normalidade, é uma evidência. Quando me falaram do projecto e no cenário que me calharia, as peças depressa começaram a encaixar-se na minha cabeça. Ora bem, na realidade era só aquilo: o afecto profundo, a entrega absoluta, o estômago elevado como quem passa nos túneis do Campo Grande, aquilo do coração a bater fora do peito. Era juntar o meu amor mais antigo com o mais recente (e ainda mais avassalador, assumo, desculpa Benfica). E era um teste rasteiro. “Vira-te de costas para o relvado (deste glorioso espaço, vazio, silencioso, fresco, perfeito e aberto só para nós) e concentra-te na Maria Inês”. E foi. Pior: sem esforço.
Diziam-me isto há um ano e dispararia “impossível!”, mas foi palavra que aprendi a deixar de usar nos tempos mais recentes. Os caminhos, com mais ou menos derrotas, são sempre caminhos, desembocam sempre em qualquer coisa possível. E a minha “coisa possível” foi gloriosa. Tem, por esta altura, uns cinquenta e picos centímetros, e os “picos” teimam em mudar a uma velocidade que nos tira o fôlego. Estudei-a o melhor que consegui antes de a conhecer e o capítulo que mais respeito impunha era precisamente o da amamentação. Era um dos tais testes rasteiros: Isto está bonito, não está? Mas agora és tu que tens de dar conta do recado todo. E foi. Pior: com esforço. Mesmo muito.
Há pouco de idílico no acto e nem vale a pena explicar. Faz parte das coisas com que há que dar de caras para solucionar. Resolvi olhá-lo com respeito e sobretudo, sentido prático. Não quis que chegasse aos fatídicos 93 minutos (ai Benfica!) da toalha ao chão, só porque a equipa não se entende. Realinhei estratégia, orientei a fera e, depois de um início de campeonato sofrido, posso dizer que não perdi o sentido prático, mas já dou por mim a projectar a vida e a sonhar tanto com ela ali aninhada, como aninhada no meu cachecol “SLB campeão”, sentada na gloriosa bancada com o foco nas papoilas saltitantes. Um feito, Maria Inês. Mais um.
Rita Tavares
28 de Junho de 2013
Agradecimento:
Sport Lisboa e Benfica, pela mística, simpatia e abertura ao projecto Loove.