Santiago tinha poucos meses, parou momentaneamente de mamar e, com um pingo de leite nos lábios, sorriu para Sara. Era o primeiro sorriso do filho e, nesse instante, Sara percebeu que era a isso que chamavam o prazer de amamentar: dar e receber.
“Sinto-me completa, sei que fui desenhada para isto”, explica Sara. Amamentar não era uma opção, era a escolha natural, mas Sara tinha medos e dúvidas, principalmente se o leite chegaria para alimentar o seu bebé. Numa consulta de saúde materna, Sara afirmou que amamentaria “se o seu leite fosse forte”. A resposta da enfermeira – “leite forte é conversa de mulheres ocidentais porque têm outras hipóteses” -, e toda a informação disponibilizada, fez com que decidisse amamentar em exclusivo até aos 6 meses, “mesmo se fosse difícil”.
O pai de Santiago tem sido fundamental no apoio mas, principalmente, nas dificuldades deste caminho, com “nas palavras meigas quando tivemos os fantasmas do peso ou a pôr panos quentes molhados quando tive uma bolha de leite, ingurgitamento e dores, muitas dores”. Por tudo isto Sara acredita que “um pai que apoia é meio caminho andado para que este processo corra bem”.
Sara fala do filho e do pai do filho com um brilho imenso nos olhos. Fala desta forma apaixonada, talvez porque o seu filme romântico aconteceu quando já não esperava. “Eu e o meu marido conhecemo-nos há 20 anos. Nunca pensei que fosse ele, ‘o tal’”. Mas era e é. “Com ele, fez tudo sentido: o casamento, filhos, uma vida a dois para sempre. Como nos filmes. Vivemos todos os dias o nosso final feliz.”
Os homens da sua vida mudaram a forma como vê a vida, a forma como pode ser amada e amar. Santiago mudou os seus preconceitos sobre a amamentação. “Achava que quando (o bebé) tivesse dentes não ia conseguir dar de mamar”. Hoje Sara amamenta um bebé de 13 meses, cheio de dentes e acredita que o desmame deve ser natural. “Acho lindíssimo ver um bebé mais velho a procurar alimento e amor na mama da mãe.”
Amamentar é assim, tudo junto: ouvi-lo cantar, mexer num pé, pedir – exigir – a outra só porque sim. “É sorver o cheiro morno do meu bebé.”
Sara é a prova que o amor, os vários amores desta vida, nos tornam pessoas doces.
Catarina Beato
17 de Julho de 2013