A naturalidade e calma com que Vanessa amamenta o Vicente e a Núria, com três meses, não deixa sequer imaginar a sua reação quando soube que estava grávida de gémeos.
Vicente e Núria aconteceram entre a Bolívia, o Chile e a Argentina. A decisão de terem filhos foi tomada e comemorada com uma viagem pela América do Sul, em jeito de despedida de uma vida apenas a dois. “Fomos dois e voltamos quatro.”
Nervosos, mas muito felizes, foram à primeira consulta e fizeram a primeira ecografia. Estava tudo óptimo, só que não era um bebé, eram dois. Vanessa ficou em choque, quase zangada. Ironicamente costumava repetir, em conversa com os amigos, que “se algum dia tivesse gémeos chorava baba e ranho quando soubesse”.
Ultrapassada a ansiedade, a gravidez viveu-se sem sobressaltos até às 30 semanas, altura em que Vanessa teve que ficar de repouso durante cinco semanas. A ordem de soltura durou pouco tempo porque, quatro dias depois, se Vicente e Núria nasceram, depois de um parto rápido e calmo.
Vanessa informou-se muito sobre este mundo da amamentação de gémeos, são outros desafios e uma dupla produção, e queria seguir o caminho natural e “óbvio”. Desejavam-lhe sorte e Vanessa respondia que não era uma questão de sorte, mas de sabedoria do seu corpo.
Núria nasceu e esteve sempre perto da mãe. Mamou nos primeiro minutos e sempre mamou bem. Não gosta de ser acordada e assim que Vanessa o percebeu retirou-lhe os horários que lhe queriam impor.
Vicente nasceu mais pequenino e esteve nos cuidados intermédios de neonatologia. Foi alimentado com LA (leite artificial) e por sonda. Passaram-se dois dias à espera que Vicente aprendesse a comer, até que à hora do biberão uma das enfermeiras lhe perguntou se lhe queria dar mama. “Claro que sim!” E o Vicente mamou, pela primeira vez e de forma perfeita.
No dia seguinte foram os três para casa. E estes gémeos pequeninos já duplicaram o tamanho só a “comerem da maminha da mãe”.
“Assumi sempre que ia alimentar os meus filhos”, diz Vanessa. Dá quando querem e onde querem e não sente a sua liberdade condicionada porque basta pô-los a mamar. “Dou a um de cada vez, aos dois ao mesmo tempo… como calha.”
É uma conversa a dois ou três que Vanessa descreve apenas como uma doce sintonia.
Catarina Beato
5 de Julho de 2013