Nasci em 1975, fruto do entusiasmo da revolução do ano anterior. Não mamei o que devia. Fui um filho tardio e o leite da minha mãe não me chegava.
Talvez por isso tenha querido fazer tanta coisa na minha vida. Joguei andebol no Passos Manuel e sonhei ser transferido para o Benfica, tive a certeza que iria estudar desporto no ISEF, mas acabei em engenharia informática. Durou pouco. Achei que aprender piano me dava mais charme com as miúdas e fui professor no Conservatório. Pelo meio interessei-me pelo desenvolvimento das cidades, andei num doutoramento em Geografia Humana. A fotografia chegou-me muito mais cedo, da minha mãe que me tirava fotografias lindas em pequeno e me ensinou a pensar na luz em função da abertura do diafragma e da velocidade de obturação na sua velhinha Nikkormat de 35mm, que me confiou com o amor que uma mãe tem por um filho. Com a paixão pela imagem e pelo cinema, comecei a fazer pequenos filmes com uma câmara de bolso. Era um hobbie, mas gostei tanto, que se tornou profissão.
Em Angola, onde estive dois meses a filmar um documentário, as mulheres caminham com os filhos abraçados às costas, enquanto vendem de tudo por ruas poeirentas e avenidas movimentadas. As crianças angolanas choram pouco, apesar da muita fome que passam. As mães dão-lhes de mamar – na rua, nos ‘candongueiros’, na praça, em qualquer lugar – com a naturalidade e instinto de quem alimenta um filho para que sobreviva mais um dia.
Numa viagem de comboio de Benguela ao Cubal, fotografei pela primeira vez uma mãe a dar de mamar a um filho. O pudor que senti e que me envergonhava era tão deslocado e ridículo como apenas meu, em toda a carruagem. Percebi naquele momento que aquilo que estava a fotografar era muito mais do que alimentação.